English below!
Há alguns dias recebi um telefonema incomum: uma jornalista da rádio austríaca me convidou para gravar uns textos brasileros. Acertamos tudo pelo telefone mesmo e logo recebi o material por e-mail. Acho até que ela me perguntou se eu conhecia esse autor, João Ribeiro, e eu disse que não, claro, afinal não é só porque eu moro aqui há tanto tempo que vou conhecer a comunidade brasileira toda. Imagina só quantos se acham escritores ou blogueiros? (eu inclusive rsrsrs). Mas gosto de saber que aqui na Áustria até mesmo a literatura dos imigrantes seja apresentada assim oficialmente então… aceitei dar uma força. O e-mail chegou com o título de “Textos – Ribeiro”. Devia ser algo curtinho pois a jornalista disse que nosso horário de uma hora no estúdio era mais que suficiente pra repetir quantas vezes eu tivesse necessidade. Ok, eu… brasileiro, tranquilão… resolvi coçar o pé enquanto empurrava com a barriga até a água bater na bunda.
Quando (a água) bateu, o susto foi tanto que eu não sabia nem se ela estava gelada ou fervendo: um texto de 6 páginas não é exatamente o “curtinho” que eu esperava e não sei o que passou na minha cabeça quando resolvi acreditar que seria na minha língua materna… é claro que era em alemão! Por mais que a cultura aqui abra espaço para a “literatura de imigrantes” como eu pensei, eles devem querer, no mínimo, entender aquilo que está sendo lido. Óbvio! O melhor foi que o tal brasileiro recém chegado, metido a escritor ou blogueiro, que eu desconhecia, além de não ser nada disso, era ninguém mais, niguém menos que João UBALDO Ribeiro (pra se ver como um nomezinho do meio pode fazer um balde de diferença). Vixe, deixa até eu sentar direito.
Depois de algumas peripécias pra conseguir imprimir o texto, estudei tudo bem direitinho e fui. Acho que eu gostaria de ter me preparado umas dez vezes melhor (só pra explicar meu nervosismo na gravação). Ainda bem que os textos eram deliciosos, então resolvi simplesmente relaxar e “entrar na onda”. Aliás, quem melhor que João Ubaldo Ribeiro pra levar alguém numa boa onda?
No período em que viveu na Alemanha (1990/91), o autor escrevia uma coluna para o jornal Frankfurter Rundschau contando, afiado como ele só, suas aventuras nessas terras tão exóticas. Daí foram tirados dois textos para a gravação de hoje, O Gago e Sexy Berlin. Nada mais propício do que esse primeiro texto para o meu estado de nervosismo… eu até pensei: “João Ubaldo, seu safado, aposto que fez de propósito!” Brincadeira… Gaguejei não! Fui na onda fantástica desse autor incomparável, me diverti e me emocionei com suas histórias que pareciam fazer parte da minha própria vida ou de qualquer outro que se atreve a passar a vida num país diferente. Salve João Ribeiro… ah, UBALDO!
Some days ago I got an unusual call: a journalist at the austrian radio invited me to record some brazilian texts. We negotiated all details by telephone and soon I got the text by e-mail. I think she even asked me if I know the author, João Ribeiro, and I said no, of course… even though I live here for such a long time, how could I know the whole brazilian community? Imagine how many of them call themselves writers or bloggers! (include me in the list…) But I do like to know that here even immigrant’s literature is officially presented somehow so.. I agreed to participate. That e-mail arrived with the subject “Texts – Ribeiro”. It should be something short since the journalist said we would have one hour in the studio and that was plenty of time to repeat it as many times I need. And so, I… brazilian, lazy bones… decided to rest a bit and await the right moment to prepare myself. Read: as late as possible!
When the “right moment” came I couldn’t get more shocked: a 6 pages long text is not exactly that short as I first thought and I have no idea what I had in mind when I decided to believe that it would be in my mother language… of course it was in German! Even though culture here opens space for “immigrant’s literature” as I thought, they might at least want to understand what is being broadcasted. Obviously! The best was that that certain brazilian newcomer, calling himself author or blogger, whom I didn’t know, beyond being none of all this is none other than João UBALDO Ribeiro (then you see what a diference a little name in the middle makes). Wow, let me seat upright here!
After a few dificulties to print the text, I did my best to learn it well and went to my appointment. I guess I should have had 10 times a better preparation (just to explain how nervous I was about this recording). Thankfully the texts were marvelously delicious and so I decided to simply relax and let myself be carried away by the text’s mood. By the way, whose mood would be better than João Ubaldo Ribeiro’s to carry someone away?
During the period he lived in Germany (1990/91), the author wrote a column at the newspaper Frankfurter Rundschau telling, as sharp as only he could be, his adventures in such exotic lands like these. Austrian radio chose two of those texts for today’s recording, The Stutterer and Sexy Berlin. Nothing more appropriate to my nervousness state than this first text and I even thought: “João Ubaldo, naughty you, I bet you did this on purpose!” Just kidding… I didn’t stuttered! I just let myself by taken by this incomparable author’s fantastic lines, had a lot of fun and felt deeply touched with his stories as they seemed to be part of my own life or from anyone else who dares to spend his life in a diferent country. Save João Ribeiro… ah, UBALDO!
Que demais essa experiência!! 🙂
CurtirCurtido por 1 pessoa
Foi muito legal Val, recomendo a leitura desse autor maravilhoso!!
CurtirCurtido por 1 pessoa
João Ubaldo… esse é dos grandes, Marcelo. Em princípio, não aprecio ficção, mas, pro João Ubaldo, abro uma exceção. Suas crônicas são fora do comum. Elas já vêm todas com sotaque baiano, uma delícia.
Quando a gente vê escritores de tipo «supermercado»(*) serem admitidos na Academia Brasileira de Letras, dá uma saudade dos escritos do Ubaldo. Gente fina como ele devia ter permissão pra viver uns 120 anos.
Forte abraço,
jhm
(*) Não vou citar o nome, mas todos sabem a quem me refiro. É um brasileiro de escrita medíocre que deita baboseiras no papel e vende caminhões de livros. Mal sabe escrever, o infeliz. Fugiu da escola. Deve dar um trabalho danado a seus tradutores. Por aqui, todo supermercado, daqueles grandes que vendem livros na entrada, tem pilhas de exemplares do mais recente romance desse senhor. Tem nome de bicho.
Já do Ubaldo, em supermercado, nunca vi livro. A vida é cruel.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Certíssimo meu querido… sei bem quem é o autor de supermercado. meus amigos brasileiros aqui em Viena e eu costumávamos brincar que seu sucesso internacional provavelmente se deve a tradutores fantásticos que conseguem transformar aquele… “nada” em alguma coisa. Mesmo assim, li seu primeiro livro (depois de tentar ler outros dois que desisti bastante rapidamente), só pra nao dizerem que critico algo que nao conheco. Abracao!!
CurtirCurtido por 1 pessoa
é um nome no meio faz toda diferença , como num sanduíche e o recheio que dá o sabor ! o seu recheio Marcelo se chama coragem!bjs
CurtirCurtido por 1 pessoa
Assim vou ficar “me achando”! rsrsrs Bjs
CurtirCurtir